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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Do papel à convergência

É no mínimo interessante perceber como os profissionais de jornalismo, tal qual professores e estudantes da área, demoraram a entender o fato de que a Internet abriu novas fronteiras para os atuais e futuros coleguinhas, no que diz respeito ao mercado de trabalho. Sim, o webjornalismo está aí, consolidado, gerando empregos, crescendo e buscando profissionais bem qualificados para a função.
Entretanto, o que se vê - seja nas empresas de comunicação, seja nas instituições de ensino superior - é uma falta de percepção dos profissionais e alunos sobre as novas perspectivas que a Internet traz para o jornalismo, a saber: interatividade, multimidialidade, hipertextualidade, tempo real e a convergência. A linearidade de pensamento aliada à cultura do papel e, em alguns casos, à preguiça mesmo, nos mostra exemplos os mais diversos de publicações on-line com "cara" de jornal impresso.
Enquanto ainda se teima em produzir para a web tal como para o impresso, a tecnologia vai avançando a passo largos, deixando muita gente para trás. Quando chegarem a "descobrir" que o "empacotamento" da notícia jornalística na Internet tem características próprias (e muito melhores que os meios de comunicação de massa tradicionais), já teremos outro modelo tecnológico em nossos calcanhares, exigindo novas formas de escrita e edição no exercício do jornalismo. A utilização dos equipamentos móveis (PDAs e celulares) no ciberespaço é um exemplo disso. Cresce de forma exponencial, o que nos leva a um outro formato de notícias, cujo mercado terá ainda mais dificuldades para encontrar profissionais capacitados.
O que dizer então do processo de convergência de mídias? E não falo aqui simplesmente da fusão de redações de veículos diferentes - tal como a realizada, por exemplo, no Espírito Santo, pela rádio CBN com o portal Gazeta On-line -, mas sim de um processo em que as grandes redes não mais pensarão a produção de notícias a partir de pautas separadas em veículos distintos. Falo, sim, de uma produção jornalística em que as pautas sejam as mesmas em uma rede, porém, "empacotadas" e aproveitadas em todas as suas mídias, de acordo com as características de cada uma, sem a mera transposição de conteúdo.
Isso não está longe de acontecer, ao contrário do que muitos possam pensar. E aí, fico a pensar se a academia, bem como os profissionais que já atuam no mercado, estão preparados para acompanhar esse processo quando mal começamos a dar os primeiros passos naquilo que Pollyana Ferrari chama de "pensar as matérias em três dimensões". Ou seja, aproveitar todas as potencialidades oferecidas pela web dentro do texto jornalístico. Pelo cenário que ora se apresenta, o mais provável é que as instituições de ensino superior fiquem a reboque. Mas não somente pelo fato de alunos e professores ainda se agarrarem à cultura do texto para o papel. Há que se considerar também que essa adequação ao processo de convergência requer infra-estrutura, que, por sua vez, tem um custo. E quando se fala em custos para qualquer instituição de ensino superior - seja ela pública ou privada - as coisas tendem a se arrastar ainda mais. Mas esta é uma outra questão, merecedora de outro artigo.
Por agora, o que me interessa é refletir sobre a necessidade de nós, profissionais de jornalismo, entendermos que estamos diante de uma nova mídia, com peculiaridades próprias e que, como tal, requer uma utilização diferenciada. Como bem diz Marcos Palácios, em seu livro Modelos de Jornalismo Digital - organizado juntamente com Elias Machado -, pela primeira vez nós, jornalistas, estamos diante de um fato, no exercício da profissão, nunca antes visto: o jornalismo na web rompeu as limitações de tempo e espaço das quais sempre fomos "escravos". Então, por que não aproveitar isso? Por que ainda vemos muito mais fotos nas versões impressas do que nas versões on-line da grande maioria das publicações jornalísticas? Isso sem falar no baixíssimo índice de utilização de podcasts, vídeos, enquetes, posts, fóruns, dentre outras ferramentas que somente a Internet pode oferecer.
A responsabilidade do ensino do jornalismo on-line nos cursos de Comunicação Social torna-se gigantesca nesse contexto. É preciso que os professores transcendam suas "cabeças de papel" para poderem mostrar a seus alunos as novas perspectivas e possibilidades trazidas - e porque não dizer, exigidas - pela Internet. Mas, paradoxalmente, isso requer algum tempo, tempo esse que a tecnologia não nos dá, ainda que nossa tão arraigada cultura linear assim o requeira, para que seja devidamente superada.

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